terça-feira, 29 de outubro de 2013

Kassab garante que briga pelo Estado é irreversível

Presidente nacional do PSD, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab garantiu que a candidatura pessedista ao governo do Estado é irreversível em 2014, já admitindo que seu nome deve ser referendado internamente. “Não tem sentido não lançar candidatura majoritária, especialmente após essa demonstração do povo nas ruas, de que quer partidos fortes, diferentes”, avaliou. Buscando se desvencilhar dos adversários de direita, Kassab se coloca como quadro de renovação e que utilizará campanha ‘limpa’, rechaçando ataques pessoais. “Temos confiança em chegar no segundo turno e vencer as eleições”, afirmou. Para Kassab, há desgaste do PSDB por estar 20 anos no comando do Palácio dos Bandeirantes.

Ele fez elogios rasgados ao aliado José Serra, mas evitou recriminar a indefinição do PSDB em relação ao futuro do ex-governador. Apesar disso, sinalizou, sem restrições, que o PSD deve homologar apoio à candidatura de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) nas próximas semanas. A oficialização renderia participação do partido em algum ministério. Considerou que a filiação de Marina Silva ao PSB é um sinal de que abriu mão de ser candidata à Presidência, duvidando de inversão de nomes na chapa, encabeçada por Eduardo Campos. Apesar de frear críticas a Fernando Haddad (PT), segundo o dirigente, a bancada do seu partido foi decisiva para barrar a votação de aumento abusivo de IPTU na Capital. Confira abaixo os principais trechos da entrevista exclusiva ao Diário.
DIÁRIO – Qual será o papel do sr. na eleição do ano que vem? Está certa a sua candidatura ao governo do Estado de São Paulo?

GILBERTO KASSAB – O partido vai ter candidato a governador. Isso é irreversível. Se o meu nome for o escolhido, vou aceitar. O trabalho de consulta em todo o Estado será feito pelo PSD Mulher, coordenado pela (ex-vice-prefeita) Alda Marco Antônio. Tudo caminha para que a gente tenha candidatura e que seja colocado o meu nome como candidato. Isso ficará oficializado em junho do ano que vem.

DIÁRIO – Como o sr. coloca a candidatura do PSD entre as que já estão postas, como a do atual governador Geraldo Alckmin (PSDB), do ministro Alexandre Padilha (PT) e do presidente da Fiesp, Paulo Skaf (PMDB)?

KASSAB – É uma candidatura de renovação, que mostrou que possui quadros quando dirigiu São Paulo, a maior cidade do País. Felizmente tivemos a oportunidade de deixar série de realizações, marcas. É evidente que é essa equipe que vai governar São Paulo. Agregando a ela as novas circunstâncias das cidades da Região Metropolitana e Interior que vão conosco participar dessa caminhada. Vai ser feliz associação. Tenho convicção que vamos nos diferenciar em apresentar bom programa, com campanha de altíssimo nível, respeitando os adversários e, principalmente, os eleitores.

DIÁRIO – Não serão três candidaturas no mesmo campo ao considerar PSD, PSDB e PMDB, tendo, por enquanto, apenas o PT na raia oposta? Não será briga por um eleitorado parecido?

KASSAB – São quatro candidatos a governador. Cada um com suas equipes, convicções, história pessoal. Vamos ter oportunidade de conquistar grande espaço nesse cenário e nos habilitar a ter importante participação, com confiança em chegar no segundo turno e vencer as eleições.

DIÁRIO – Não existe possibilidade de coligação ao governo do Estado?

KASSAB – O partido entende que no primeiro turno temos de ter candidato. Não tem sentido não lançar candidatura majoritária, especialmente após essa demonstração do povo nas ruas, de que quer partidos fortes, diferentes, uma reforma política, mostrando a cara, suas propostas, mostrar quem é quem. Assim o eleitor pode saber o que é o partido. Isso só é possível com candidatura.

DIÁRIO – O que o PSD pode mostrar de diferente do que está hoje e do PT, que nunca obteve sucesso na eleição pelo Palácio dos Bandeirantes?

KASSAB – O eleitor da cidade de São Paulo já mostrou que gostou da nossa forma que governar. Tanto é que fomos eleitos com 60% dos votos na eleição de 2008 (quando concorreu pela reeleição). Gostou da renovação, de prefeitura que tenha quadros políticos, mas que também com quadros da academia. Gostou da participação de pessoas experimentadas na vida pública, com ações seja na universidade, polícia, Ministério Público, porém, com viés político. Eu sou um político, apesar de formação técnica, de engenheiro civil e economista. É muito importante essa miscigenação de quadros de várias áreas.

DIÁRIO – Recém-criados, o Solidariedade e o Pros chegam a embaralhar o jogo em São Paulo ou pouco vão interferir?

KASSAB – O PSD não vai olhar para o lado. Vamos olhar para frente, para nossas propostas, nossas candidaturas. Espero que o maior número de partidos lance candidaturas próprias, porque é muito triste partido que não tenha candidatura a governador. Isso já mostra certa fragilidade e isso não é bom. O segundo turno é feito para compor.

DIÁRIO – Como o sr. vê a indefinição do PSDB sobre o nome do ex-governador José Serra, seu aliado? Há um desprestígio?

KASSAB – É difícil me expressar em relação a essa questão, porque é um outro partido. Mas, referindo-me à figura do Serra, merece meu respeito, sou admirador dele, tenho como amigo. É pessoa da vida pública das mais qualificadas do País. A questão que se discute no PSDB é interna. Não cabe a mim.

DIÁRIO – É a primeira vez de lados opostos com o Serra, que ajudou na sua campanha de 2008, mesmo com o PSDB na disputa (à época, com Alckmin)?

KASSAB – Não é questão de lados opostos. A eleição é estadual. A questão é partidária. Tenho a responsabilidade de ser presidente de grande partido. O PSD já se manifestou por apoio, ainda que informal, mas em breve formalizar, a candidatura (à reeleição) da presidente Dilma Rousseff (PT). Portanto, já temos definição, um rumo, independentemente de outras candidaturas a Presidência da República. Vamos apoiá-la.
DIÁRIO –Como o sr. enxergou o naufrágio para conseguir a validação da Rede Sustentabilidade, liderado pela ex-senadora Marina Silva, hoje no PSB, junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral)? Com episódios, inclusive de críticas ao PSD...

KASSAB – Na verdade, não fui eu que consegui (em 2011). Era grupo tão expressivo de pessoas, vejam o tamanho do partido. Eram 50 deputados federais, dois governadores, senadores. Era estrutura política grande motivada em formar um partido. As reclamações que ela (Marina) fez em relação à Justiça Eleitoral nós também fizemos, mas a lei foi para todos. Eu lamentei muito que a Rede não tenha alcançado. Teve meu apoio. Teve a minha assinatura.

DIÁRIO – E a consequente aliança da Marina com o PSB e Eduardo Campos, governador de Pernambuco?

KASSAB – Fiquei feliz que ela se filiou a um partido, porque se não se filiasse já estaria fora do processo.

DIÁRIO – O sr. acredita possível alguém como a Marina, que teve 20 milhões de votos em 2010 à presidência, abrir mão da candidatura?

KASSAB – Ela abriu na hora que ela se filiou a um partido que já tem candidato. O Eduardo é candidato. Não vejo uma inversão dos nomes. Ele já é candidato, já se distanciou do governo. A gente que tem um pouco de experiência na vida pública sabe que é uma candidatura quase irreversível. Pode ser vice, candidata a senadora, deputada. E se for vice é uma chapa forte. A parceria faz um mês. Esse quadro pré-eleitoral acomodou. As pesquisas mostram o Aécio (Neves, PSDB) no segundo lugar. Acho que o PSDB ainda é favorito para conquistar o segundo turno. Mas, de qualquer maneira, o Eduardo cresceu. Ele tinha 8% e está em torno de 15%, quase o dobro, mostrando o apoio da Marina.

DIÁRIO – O que o sr. apontaria em relação a administração do PSDB no Estado, uma vez que o PSD se coloca como opção e deve apontar falhas na gestão?

KASSAB – É evidente que em 20 anos de governo (do PSDB no poder) a mobilidade pouco avançou. Temos em São Paulo 70 quilômetros de Metrô. Na Grande São Paulo há ausência de linhas. Na questão do transporte público houve falha muito grande, até porque os municípios não têm condições de investir nessa área em lugar nenhum do mundo. Na Saúde, também é diário o inconformismo com a qualidade no atendimento. Na Educação, precisamos avançar na valorização do servidor. E na Segurança Pública é fundamental investimento nas polícias, em tecnologia, com valorização. Hoje, infelizmente existe falta de motivação.

DIÁRIO – Qual é o mérito da presidente Dilma para o PSD declara apoio à reeleição?

KASSAB – Infelizmente, em um partido que conquistou registro três dias antes para o prazo de filiação (um ano de antecedência ao pleito) para quem queria ser candidato a prefeito, nós (do PSD) não temos condições de lançar candidato a presidente. Não temos estrutura política para isso. Temos de fazer uma opção. E fizemos por série de avanços que ela promoveu, sem desmerecer o governo Fernando Henrique (Cardoso, PSDB, 1995 a 2002), que avançou muito, principalmente, na questão da estabilidade econômica. Mas hoje a gente vive avanços consolidados no período do presidente Lula (PT, 2003 a 2010) no campo social e condição de investimento da União em infraestrutura nos municípios, mobilidade. É um governo que tem seus problemas, mas merece ser reeleito. As conquistas superam de maneira expressiva os problemas.

DIÁRIO – Por que o PSD se mostrou fiel desde o início ao governo Dilma?

KASSAB – < O PSD é independente. Na ocasião em que definirmos o nosso apoio à reeleição, vai ser nosso governo. Não estamos pleiteando nada no momento. Não temos cargos. O (Guilherme) Afif Domingos (do PSD) foi convidado pela presidente para ocupar o Ministério da Micro e Pequena Empresa por sua história política e profissional sobre o tema. Está vinculado ao tema e não ao partido. Não é uma indicação partidária. Mas estamos caminhando para ser base, isso está prestes a acontecer. Estamos concluindo esse processo de consulta aos Estados.

DIÁRIO – Qual a avaliação que o sr. faz de dez meses de mandato de Fernando Haddad à frente da prefeitura de São Paulo?

KASSAB – Prefiro me manifestar ao fim do primeiro ano. Como ex-prefeito, me sinto mais confortável fazendo avaliação muito mais ampla ao encerrar esses primeiros 12 meses. Se tivesse problema específico, eu me manifestaria, mas até agora não. Nada justifica que eu faça avaliação antecipada.

DIÁRIO – Nem a questão do aumento do IPTU?

KASSAB – Nesse caso, cumprimento a bancada do PSD, liderada pelo (José) Police Neto, que conseguiu negociação, redução grande em relação à proposta exagerada (do Executivo, que ficou acordado em 13% para 2014, colocando travas para aumentos nos anos subsequentes).

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